Os judeus em Portugal

Como era habitual à época, os filhos da grande família judaica optavam pela Arte Médica ou de Boticário, ocupando por isso mesmo, nestas artes, a maior parte dos cargos por direito próprio.

O ambiente da terra beirã, coberta de montanhas, frio, neve e ainda pouco habitada, dava azo a lendas, malquerenças e demais fantasias; no tempo do nosso leitor chamar me iam um homem da interioridade. Assim, era comum aos judeus, mesmo conversos, serem considerados pelos vizinhos cristãos -velhos, de acordo com a longa tradição da Humanidade, como renegados e feiticeiros, detentores de sortilégios com poderes quase demoníacos.

Talvez para este comportamento ancestral de desconfiança e despeito contribuísse a proverbial prosperidade económica dos judeus sefarditas, quase sempre fruto de uma luta e persistência familiar prolongada, de gerações, associada a qualidades de trabalho e resistência pouco habituais na velha terra lusitana, antiga de seiscentos anos.

Portugal, já nessa altura a viver acima das suas riquezas e haveres (como parece continuar a ser uma característica endémica nos trezentos anos seguintes) e sem fazer nada para se cuidar, devido à sua índole ociosa, passadista do antigo Império, agora quase falido, vai-se tornar cada vez mais uma sociedade fechada, ensimesmada, mesquinha, invejosa, sendo um dos sinais o seu fanatismo, a que a Inquisição (famosa polícia religiosa ultra-católica) corporizou, pois devido à sua intolerância, perseguia, enclausurava e mandava queimar qualquer homem ou mulher que fugisse às normas do costume, baseadas estas na tradicional doutrina universal com profundas raízes conservadoras e antijudaica.


FUENTE: vidaslusofonas.pt